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MONTEIRO LOBATO

flor, e a mais vista assim, em nudez, num quadro agreste daquelles?

Izabel deslumbrou-me.

Corpo esculptural, nesse periodo entontecedor em que florescem todas as promessas da puberdade, deante delle senti a explosão subitanea dos instinctos...

Ferveu-me nas veias o sangue.

Fiz-me cachoeira de appetites.

Vinte annos!

O momento das erupções incoereiveis... Immovel como estatua, alli me quedei enm extase o tempo que durou o banho. E estou ainda com o quadro na imaginação. A graça com que ella, de cabeça erguida, bocca entre-aberta, apresentava os pequeninos seios ao jacto das aguas... Os sustos, e gritinhos nervosos, quando gravetos derivantes lhe esfrolavam a epiderme... Os mergulhos de sereia na bacia de lage e aljofrado de espuma...

Durou uns minutos o banho fatal. Depois vestiram-se numa pedra a secco e lá se foram, contentes, como borboletinhas azues em manhăs de sol.

Eu fiquei-me no lugar, extatico, rememorando o quadro — o mais lindo quadro que meus olhos viram.

Impressão de sonho...

Aguas de crystal rumorejante; frondes orvalhadas pendidas para a lympha como a lhes escutar o murmurio; um raio de sol matutino, coa-