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MONTEIRO LOBATO

Approximei-me de Liduina.

O instincto disse-me que o caminho era por alli.

Approximei-me da mucama, e depois de lhe cair em graça, captando-lhe a confiança, disse-lhe um dia a minha tortura:

— Liduina, tenho um segredo n'alma que me mata, mas tu poderás salvar me. Só tu. Preciso do teu soccorro... Juras auxiliar-me ?

Ella espantou-se da confidencia, mas, insistida, rogada, implorada, prometteu quanto pedi.

Pobre coitadinha! Tinha uma alma irmã da minha e foi ao comprehender su'alma que pela primeira vez alcancei todo o horror da escravidão...

Abri-lhe o meu peito e revelei-lhe em phrases candentes o amor que me consumia.

Liduina, a principio, assustou-se. Era grave o caso. Mas quem resiste á dialetica dos apaixonados? E vencida afinal, prometteu auxiliar-me.

XIII

Liduina agiu por partes fazendo desabrochar o amor no coração da senhora sem que ella o percebesse.

A principio, uma vaga e discreta referecia á minha pessoa:

— Sinhazinha conhece o Fernão ?

— Fernão ?!... Quem é ?

— Um moço lindo, lindo, que veiu do reino e toma conta do engenho...

— Si já o vi, não me lembra.