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MONTEIRO LOBATO
XIV

Izabel dormiu tarde essa noite. A idéa de que sua imagem enchia o coração de um homem esvoaçava-lhe na imaginação como as abelhas do laranjal.

— Mas é um subalterno! allegava o orgulho.

— Que importa, si é um moço rico de bons sentimentos ? retorquia a natureza.

— E bem pode ser que fidalgo !... accrescentava, insinuante, a phantasia.

A imaginação veiu tambem á tribuna :

— E inda pode vir a ser um poderoso fazendeiro. Que era o capitão Aleixo na idade delle ? Um simples arreador...

Já era o Amor que assoprava taes argumentos...

Izabel ergueu-se da cama e foi á janella.

A lua em mingoante quebrava de cinerio o escuro da noite.

Os sapos no brejal latiam melancholicos. Vagalumes tontos riscavam phosphoros no ar.

Era aqui... Era aqui neste quarto, era aqui nesta janella !...

Eu a espiava de longe, nesse estado de extase que o amor provoca deante do objecto amado.

Longo tempo a vi assim, immersa em scismas. Depois, fechou a persiana e... o mundo para mim encheu-se de trevas.