Os Negros

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XV

No outro dia, antes que Liduina abordasse o thema dilecto, disse-lhe Izabel :

— Mas Liduina, que é amor ?

— Amor ? respondeu a arguta mucama em quem o instincto substituia a cultura. Amor é uma coisa...

— ...que...

— ...que vem vindo, vem vindo...

— ...e chega !

— ...e chega e toma conta da gente. Tio Adão diz que o amor é doença. Que a gente tem sarampo, catapora, tosse comprida, cachumba e amor — cada doença no tempo proprio.

— Pois eu tive tudo isso, replicou Izabel, e não tive amor...

— Sossegue que não escapa. Teve as peiores e não ha de ter a melhor ? Espere que um dia elle vem...

Silenciaram.

Súbito, Izabel, agarrando o braço da mucama, encarou-a a fito nos olhos :

— E’s minha amiga, do coração, Liduina ?

— Um raio me parta neste momento si...

— E’s capaz dum segredo, mas um segredo eterno, eterno, eterno ?

— Um raio me parta...

— Cala a bocca.

Izabel vacillava.