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MONTEIRO LOBATO

a mais nobre das almas, não tem o direito de erguer os olhos a certas alturas...

— Mas si a altura quizer e descer até elle ? retrucou audaciosa e vivamente a menina.

Vacillei numa tonteira de felicidade, mas retorqui simulando descrença :

— Esse caso acontece ás vezes — nos romances... Na vida, nunca !

Calamo-nos de novo e nesse entremeio Liduina reappareceu, esbaforida, com a cestinha na mào.

— Custei a achar, disse a velhaca justificando a demora, estava cahida atrás do toucador.

O olhar que lhe lançou Izabel dizia : «mentirozinha !»

Tomei a cesta e preparei-me para trepar á arvore.

Izabel, porém, interveiu :

— Nào ! não quero mais pitangas. Lembro-me agora que si as cômo perco a vontade para a garapa do meio dia. Fica para outra vez.

E para mim, amavel :

— Queira desculpar-me...

Saudei-a, ebrio de felicidade e lá me fui de alleluias n'alma, com o mundo a dançar em torno de mim.

Izabel seguiu-me com o olhar, pensativamente.

— Tinhas razão, Liduina, é um rapagão que vale todos os pelintras da Côrte. Mas, coitado !... Queixa-se tanto da sua condição...

— Bobagens, muxoxou a mucama trepando á pitangueira com agilidade de macaco.