VII

Sucedeu o que era inevitavel. Os Vilhancicos foram desaparecendo pouco a pouco. O caracter mais que profano, que lhe deixamos assinalado, bem indicava que o seu logar não era já no templo. E com efeito lá acabam, para vir novamente até à fonte donde surgiram. Executados sobretudo nas festividades do Natal e Reis, nestas continuaram entre o povo, nas aldeias, cantados por gente humilde em toadas ingénuas, dialogadas a vozes ou com acompanhamento de instrumentos, numa enscenação de trajos rústicos, tudo farto motivo a alegria e risos inofensivos e, no fim, razoavel colheita de ofertas para os executantes do popular e gracioso auto.

Bons tempos! velhos tempos já!

Enquanto na lareira ardia o grosso madeiro que durava dias e dias quase em perene brazido e em volta parentes e amigos entretinham os serões descansando das fadigas, ou via-se da porta o costumado:

Menino Jesus Nazaré,
Quer que cá cante?

E era um tropel de cachopinhos que aparecia, à frente o rapaz que segurava o cestinho