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mas castellos, para exorcismarem e combaterem os dragões que espreitam a caravana na passagem».[1]A lenda do Prestes João localisou-se por conseguinte na India, não, como seria natural, na India verdadeira, mas na India ultima, quer dizer, no extremo Oriente da Asia, onde todas as lendas se refugiavam, a India que ficava para além dos limites das conquistas de Alexandre, e onde o proprio heroe toma tambem um aspecto legendario, como se lhe bastasse tocar n’uma região nevoenta para que o seu proprio vulto em nevoas se envolvesse. Alexandre, já o dissemos, foi para a Europa medieval, como Virgilio, um ente sobrenatural, meio pagão e meio christianisado posthumamente, meio feiticeiro e meio conquistador. É elle, como dissemos tambem, que encerra os povos de Gog e de Magog por traz da famosa muralha, é elle que na sua carta a sua mãe Olympias, carta não menos apocrypha, é claro, do que a do Prestes João, lhe diz que encontrou a arvore do sol e a arvore da lua, e que lhes ouviu os oraculos.[2] É para além do Ganges tambem que os

  1. Theophilo Braga, Lendas Christãs, pag. 227.
  2. Veja-se a Nota explicativa do symbolo da arvore do sol e da arvore da lua, escripta pelo sr. Felix Lajard, e communicada ao visconde de Santarem que a publicou no fim do III volume do seu Essai sur l’histoire de la cosmographie, etc., pag. 506.