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geographos da meia edade imaginaram povos que se sustentam só com o aroma das flores, lenda que vamos ainda encontrar em Camões. É no extremo Oriente que está o Paraizo, e junto do Paraizo, note-se bem, o antro em que S. Macario se escondeu para viver immerso em prece, depois de ter tentado debalde penetrar na morada dos nossos primeiros avós, e foi ahi que o encontraram um seculo depois, e sempre orando, tres monges gregos que tinham ido a essas longinquas partes do mundo para tentarem tambem ver o Paraizo de perto.[1] Avisados pelo exemplo de S. Macario, voltaram os tres monges para traz, mas S. Macario lá ficou orando e atravessando, absorto na prece, os seculos sem fim.

Vê-se pois que aquelles ares do Paraizo espalhavam ainda nos seus arredores umas fragrancias divinas. Parecia que da eternidade promettida a Adão e Eva tinham ficado uns resquicios para os que do Paraizo se approximassem; era para alli portanto que a imaginação popular levaria o reino paradisiaco do Prestes João.

Mas as viagens de Marco Polo vieram dar uma nova physionomia ao mytho do Prestes João, approximando-o

  1. Rosweid, Vitæ Patrum. — Vita S. Macari Romani servi Dei qui niventus est juxta Paradisum. Andrea Bianco no seu famoso mappa de 1436 põe o Paraizo n’uma peninsula, e junto do Paraizo um grande edificio com esta designação: Ospitium Macari.