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pé de Marrocos,[1] e não havia n’isso contradicção com o nome que se lhe conservava de Prestes João das Indias, porque, segundo a antiga geographia systematica, podia bem ser que a Ethiopia se ligasse com a Asia, e que já n’essas terras ainda proximas de Marrocos principiasse o reino maravilhoso do Prestes João.

É essa anciosa curiosidade que domina no espirito dos Portuguezes, é ella que os arroja aos grandes feitos, ás pertinazes investigações. Como das investigações astrologicas com as quaes se procurava ler nas conjuncções dos astros o segredo dos destinos humanos saía a astronomia, como nas locubrações dos alchimistas se foram desvendando os segredos da chimica, assim na procura ardente do reino do Prestes João se foi desvendando, por tantos seculos escondido, o segredo da geographia africana, o da sua fauna, da sua flora e da sua ethnologia. Logo n’uma das primeiras viagens um audacioso portuguez, João Fernandes, se internou no sertão africano, e por lá andou mezes inteiros, convivendo com os indigenas, aprendendo a sua lingua, estudando os seus costumes.[2] Devia-lhe ter corrido

  1. Ainda não tinham passado os portuguezes do Cabo Branco, estava-se apenas no anno de 1441 e já o infante encarregava Antão Gonçalves de saber alguma coisa ácerca de Prestes João.
  2. Um distincto escriptor francez, Eyriés, que escreveu a biographia de João Fernandes na Biographie Universelle, diz que elle fôra o primeiro Europeu que penetrára no interior da Africa e que as particularidades da relação que elle trouxera apresentavam uma grande analogia com as da relação de Mungo-Park. A respeito dos serviços prestados á botanica pelos Portuguezes vejam-se os estudos de primeira ordem do sr. conde de Ficalho, Plantas uteis da Africa Portugueza, (Lisboa, 1884), a Flora dos Lusiadas, (Lisboa, 1880), a Memoria sobre a Malagueta, (Lisboa, 1878). A respeito dos nossos serviços á ornithologia, vejam-se as interessantissimas communicações feitas pelo notavel sabio portuguez o sr. Bocage a Andrade Corvo, e por elle publicadas nas notas á sua edição do Roteiro de D. João de Castro.