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idéas favoritas da geographia antiga era a grande extensão dos mares. Suppunha-se que de toda a terra só a septima parte estava fóra das aguas. Colombo sustentava a opinião contraria, dava razões de equilibrio, mas não conseguia facilmente derrubar o preconceito.

Accrescente-se ainda que tudo parecia indicar que os Portuguezes se achavam no caminho verdadeiro da India. Qual era a opinião antiga? que a costa africana occidental, antes de se chegar ao equador, voltava para o oriente e ia ou á Africa Oriental ou á Asia. Se as viagens portuguezas tivessem mostrado que esse facto se não dava, e, ao mesmo tempo, a zona torrida fosse inhabitavel, estavam perdidas todas as esperanças, mas as viagens portuguezas tinham demonstrado exactamente que não havia zonas inhabitaveis, logo podia-se proseguir com afoiteza, que mais longe ou mais perto havia de se chegar ao fim do continente africano e havia de se voltar para a India. Corria-se o perigo de se entrar na zona glacial antarctica? Embora! Como era natural, passava-se de extremo a extremo. Desde que se descobrira que a zona torrida não era inhabitavel, conhecia-se que não havia zonas inhabitaveis, e que se poderiam atravessar as zonas glaciaes como se estava atravessando a zona torrida.[1]

  1. Diz Pedro Nunes: «E perderam-lhe (os Portuguezes) tanto o medo (ao mar): que nem ha grande quentura da torrada zona: nem o descompassado frio da extrema parte do sul: com que os antigos escriptores nos ameaçavam lhes pode estorvar: «...Tirará nos muitas ignorancias: e a mostraram ser a terra mór que o mar (o erro de Colombo): e auer hi antipodas: que ate os Santos duvidaram: e que nam a regiam que nem por quente nem por fria se deyee de abitar.» Tratado que o Doutor Pero Nunes, cosmographo del Rey nosso senhor fez em defensão da carta de marcar: võ o regimento da altura. Reg. 1. (Lisboa, 1537).