Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/185

179

dos soberanos que estavam mais á altura de comprehender os grandes projectos dos descobrimentos. O proprio Colombo o diz a cada instante, Toscanelli farta-se de o affirmar: o rei de Portugal era o soberano que melhor entendia de coisas geographicas, o nosso grande rei! diz Colombo ás vezes. E comtudo Colombo não conseguiu captival-o. É quasi incomprehensivel esse facto, mas talvez se explique um pouco se analysarmos os caracteres de um e de outro.

Ha, naturalmente, duas especies de organismos entre os homens da mais alta esphera: os desequilibrados e os equilibrados. Á primeira pertencia Christovam Colombo, á outra D. João II. D. João II era um d’estes fortes espiritos, perfeitamente assentes n’uma base segura, que têem a perspicacia, a energia, as concepções arrojadas mas nunca desmandadas, espiritos capazes de formarem um plano e de o desenvolverem serenamente, completamente desembaraçados da rotina, amando e acolhendo as innovações, mas não sem as sujeitarem ao criterio do seu lucido juizo. Homens assim, n’este jogo da existencia têem as cartadas atrevidas mas calculadas, nunca se entregam aos irreflectidos caprichos do azar. O perigo não os assusta, e affrontam-n’o quando é necessario, mas não o procuram por uma vã fanfarronada de cavalleiros andantes. Soldado, ninguem o foi como D. João II: em Arzilla escureceu