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procura, só, com a sua espada e uma luz, e quando os servos, acordados pelos clamores da rainha, correm em sua busca, vão encontral-o n’um desvão, sondando com a luz os recantos sombrios, impassivel e sereno como quem não comprehende sequer os pavores da superstição.

De toda a sua raça o homem a quem mais se assemelha pelas tendencias nobres do seu espirito é o infante D. Pedro, mas este possuia uma qualidade que arredondava todos os angulos do seu caracter, que amaciava todas as durezas do seu pensamento: a bondade feminil, que elle herdara de sua mãe, D. João II tinha a violencia do bisavô, sem ter ao seu lado a mulher propria, como Filippa de Lencastre, para attenuar as asperezas da indole do matador do conde Andeiro. D. Leonor era uma nobre e intelligente senhora, não adquirira comtudo influencia sobre o seu terrivel marido, porque não era amada. Mas a alta razão, a comprehensão de todos os grandes emprehendimentos, a cultura que o punha a par do seu seculo, a reacção contra as tradições medievaes, que eram a sombra povoada de visões, quando elle sonhava uma sociedade radiante de luz e de sciencia e dominada pela Ordem: tudo isto tinha D. João II. D. João II era a Renascença que principiava com os ideaes de Platão e o culto da sciencia antiga seriamente estudada e seriamente comprehendida, e Colombo, que mais do que ninguem ia contribuir