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para a Renascença, era comtudo pelas tendencias do seu espirito o ultimo representante d’essa meia edade bellicosa e mystica, que, antes de se sumir para sempre, legava ao mundo que nascia a realisação do seu ultimo sonho cavalheiresco.

Imagine-se agora Colombo tratando com D. João II, que o ouve, que o attende, que percebe que não tem deante de si um homem vulgar, mas que desconfia, que hesita deante d’aquelles projectos meio mysticos, meio scientificos, deante d’aquella exuberancia de palavras e de pensamentos que não quadra ao seu espirito nitido, e conciso. Colombo é um italiano, com aquella prodigalidade de palavras e de formulas obsequiosas, caracteristicas da raça. O que era elle? um sabio ou um charlatão? Se do sublime ao ridiculo apenas vai um passo, como Napoleão dizia, de um homem de genio que traz uma idéa fecunda a um charlatão que traz um elixir tambem a distancia não é grande. Colombo, profundamente convencido, era prodigo de promessas e não menos de exigencias. Os thesoiros que elle encontrasse no Cathay destinava-os, segundo dizia, á conquista do Santo Sepulcro. Ora a conquista do Santo Sepulcro era, sem desfazer nos sentimentos christãos de D. João II, le cadet de ses soucis. Christovam Colombo enganara-se na porta. Essas declarações eram optimas para D. Affonso V, detestaveis para D. João II. Tudo quanto cheirasse a cavallaria