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ponto geographico que foi muitas vezes representado pelos cartographos como uma cidade maravilhosa, com um castello, em que habitava um mysterioso soberano, os Padres da Egreja reclamavam para Jerusalem a honra de ser ella o centro da terra, ou pelo menos o centro da terra habitada, quando se imaginava que o resto do mundo estava coberto pelas aguas desde o diluvio.

Finalmente para apresentarmos no seu conjuncto as idéas geographicas affirmadas dogmaticamente pela religião, fallaremos ainda, posto que não interesse a questão dos descobrimentos maritimos, na existencia para o norte das terras de Gog e de Magog. Eram os paizes ao norte da Asia, n’essa região desconhecida em que tambem pullulavam as fabulas, porque era a que se approximava das zonas glaciaes inhabitaveis. Ahi, dizia-se, habitavam os filhos de Caim[1], povos que tinham escapado, ao que parece, do diluvio, não por traz da barreira insuperavel da zona torrida, mas encostando-se ás gelidas barreiras dos polos. Irrompiam ás vezes em incursões ferozes, até que Alexandre o Magno, na sua grande expedição, que ficou legendaria, levantou a grande muralha que poz termo ás suas

  1. Os geographos arabes consideravam Gog e Magog como filhos de Japhet, devemos accrescentar que era esta a doutrina mais seguida.