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é que não ha ninguem? Quando todos dormem ha alguem acordado? A lufada tenebrosa, o vento, as aves de rapina, os animaes escondidos, os entes ignorados, apparecem ao pensamento e misturam-se aquella casa. A que passageiros serve ella de hospedaria? a gente imagina trevas de graniso e de chuva mettendo-se pela janella dentro. Ha na parte interior uns vagos signaes de chuva que gotejou: Os quartos fechados e abertos são visitados pelo furacão.

Commetter-se-hia algum crime alli? Parece que aquella casa, á noite, entregue ás trevas, deve chamar por soccorro. Será muda? Sahem vozes de dentro? Que faz ella na solidão? O mysterio das horas negras existe alli facilmente. A casa assusta ao meio dia: que será ella á meia noite? Contemplando-a, contempla-se um segredo. Pergunta-se, — porque a superstição tem a sua logica e o possivel a sua inclinação, — o que será aquella casa entre o crepusculo da noite e o crepusculo da manhã. A immensa dispersão da vida extra-humana tem acaso naquelle cume deserto um vinculo em que ella pára, e que a obriga a fazer-se visivel e a descer? O esparso vai redomoinhar alli? o impalpavel vai alli condensar-se? Enigmas. Sahe daquellas pedras o horror sagrado. A treva que está nesses quartos defesos é mais do que treva; é o desconhecido. Depois do sol posto voltam barcos de pescadores para terra, calam-se os passaros, o cabreiro que está atraz do rochedo vai-se com as suas cabras, as fendas das pedras darão passagem aos reptis mais animados, as estrellas começarão a olhar, soprará o vento, far-se-ha