Approximavam-se retendo a respiração, como quem se approxima de um animal feroz.
Tinham subido o comoro que fica atraz da casa, e que vai ter a um pequeno isthmo de rochedos pouco praticavel; estavam perto da casa; mas viam apenas a fachada do sul, que é toda murada; não tinham ousado voltar á esquerda, o que os teria exposto a ver a outra fachada em queha apenas duas janellas, o que é terrivel. Entretanto atreveram-se, por que o aprendiz de callafate disse-lhes baixinho: viremos de bombordo; daquelle lado é que é bonito; é preciso ver ás duas janellas negras.
Viraram de bombordo e chegaram ao outro lado da casa.
As duas janellas estavam illuminadas.
Os meninos fugiram.
Qando estavam longe, voltou-se o francez.
— Olhem, disse elle, já não ha luz.
Com effeito, não havia luz nas janellas. A casa desenhava-se na lividez diffusa do céo.
O medo não se foi, mas a curiosidade voltou. Os furta-ninhos approximaram-se.
De repente appareceram as luzes outra vez.
Os dous rapazes de Torteval tornaram a pôr sebo ás canellas. O pequeno Satanaz francez, não avançou, mas não reccuou.
Ficou immovel, em frente da casa, olhando para ella.
Extinguio-se a luz, depois brilhou de novo. Nada mais horrivel. O reflexo fazia um vago rastilho de fogo na relva humida pelo orvalho. Em certo momento, o clarão desenhou na parede interior da casa grandes perfis negros que se mechiam e sombras de cabeças enormes.