desmesuradamente. Nesta illusão de optica do medo, havia realidade. A casa crescia realmente por que elles approximavam-se della.
Entretanto, as vozes que estavam na casa tornavam-se mais distinctas. Os rapazes ouviam. O ouvido tem os seus augmentos. Não era murmurio, era mais que um cochichar, menos que um alarido. De quando em quando destacava-se uma ou duas palavras claramente articuladas. Essas palavras, impossiveis de comprehender, soavam estranhamente. Os rapazes paravam, ouviam e depois continuavam a andar.
— É a conversa das almas do outro mundo, mas eu não creio em almas do outro mundo, disse o aprendiz de calafate.
Os pequenos de Torteval tinham vontade de esconder-se atraz da lenha; mas já estavam longe, e o amigo francez continuava a andar para a casa. Temiam ir com elle, e não ousavam deixal-o.
Acompanhavam-n’o, a passo e passo e perplexos.
O aprendiz de calafate voltou-se para elles e disse-lhes:
— Bem sabem que não é verdade. Não existe nenhuma.
A casa tornava-se cada vez mais alta.
Approximavam-se.
Approximando-se, reconheciam que havia na casa uma luz abafada. Era um clarão vago, um desses effeitos de lanterna surda, indicados ha pouco, e que abundam na illuminação das feitiçarias.
Quando se acharam ao pé da casa pararam de todo.