e se amalgamavam no mesmo miasma, os cançassos, os desfallecimentos, as borracheiras, incubadas as marchas e contra-marchas de um dia sem um pedaço de pão e sem um bom pensamento, as noites lividas e somnolentas, remorsos, cobiças, cabellos immundos, rostos com o olhar da morte, beijos, talvez, das bocas da treva. A podridão humana fermentava naquella tina. Eram atiradas áquelle alvergue pela fatalidade, pela viagem, pelo navio chegado na vespera, por uma sahida de prisão, pelo acaso, pela noite. O destino vasava alli, todos os dias, a sua alcofa. Entrava quem queria, dormia quem podia, falhava quem ousava. Era proprio para cochichar. Todos se apressavam em misturar-se. Tratavam de esquecer-se no somno, visto que não podiam perder-se na sombra. Tiravam á morte aquillo que podiam. Fechavam os olhos naquella agonia confusa que todas as noites começava. Donde sahiam? Da sociedade, porque eram a miseria; da vaga, porque eram a espuma.
Nem todos tinham palha. Mais de uma nudez estava alli no chão; deitavam-se estafados; erguiam-se anquilosados. O poço sem parapeito e sem tampa, sempre aberto, tinha trinta pés de profundidade. Cahia alli a chuva, escorriam as immundicies, filtravam todos os escoamentos do pateo. A caçamba para tirar agua ficava a um lado. Quem tinha sede, bebia. Quem estava aborrecido, afogava-se. Do somno do monturo passava-se ao somno do poço. Em 1819 tirou-se dalli um menino de 14 annos.
Para não correr risco naquella casa era preciso ser da laia. Os estranhos eram mal vistos.