— 65 —

Já não podia esperar a Durande, nem vê-la partir, nem voltar. O que é um resto de existencia sem objecto? Beber, comer, e depois? Aquelle homem tinha corôado os seus trabalhos com uma obra prima, e as dedicações com um progresso. Abolira-se-lhe o progresso, morrera-lhe a obra prima. Para que viver ainda alguns annos vasios? Não tinha mais nada que fazer. Naquella idade não é possivel recomeçar; de mais a mais estava arruinado. Pobre velho!

Deruchette, assentada ao pé delle, e chorando, tinha entre as suas duas mãos a mão de mess Lethierry. As della estavam postas, a de Lethierry apertada. Via-se nisso a differença daquelles dous abatimentos. As mãos postas ainda tem esperança: a apertada, nenhuma.

Mess Lethierry abandonava-lhe o braço sem resistencia. Estava passivo. Tinha em si apenas aquella porção de vida que póde haver depois do raio.

Ha certas descidas ao fundo do abysmo que retiram um homem do meio dos vivos. As pessoas que andam em roda são confusas e indistinctas; acotovelam-n’o e não lhe chegam. De parte a parte ficam inacessiveis. A ventura e o desespero não são os mesmos centros respiraveis; o desesperado assiste á vida dos outros, mas de muito longe; ignora quasi a sua presença; perde o sentimento da propria existencia; que importa ser de carne e osso, o desesperado já se não sente real; já não é elle proprio, é apenas um sonho.

Mess Lethierry tinha o olhar dessa situação.

Cochichavam os grupos.