A luz da manhã ia crescendo a leste; a alvura do horisonte augmentava a negridão do mar. Do lado opposto, declinava a lua.
Os dous pilares eram as Douvres. A especie de massa apertada entre elles como uma architrave era a Durande.
Apertando assim a sua victima, e deixando-a ver, o escolho era horrivel. A atitude daquelles rochedos era uma especie de repto. Parecia esperar.
Nada mais altivo e arrogante como tudo aquillo; o navio vencido, o abysmo victorioso. Os dous rochedos, ainda gotejantes da tempestade da vespera, pareciam dous combatentes em suor. Tinha acalmado o vento, o mar dobrava-se placidamente; advinhava-se que havia á flôr d’agua alguns bancos onde os penachos de escuma cahiam com graça; de longe vinha um murmurio semelhante ao zumbido das abelhas. Tudo era um nivel, menos as duas Douvres, levantadas e tezas como duas collunas negras. Os flancos escarpados tinham reflexos de armaduras. Pareciam prestes a encetar de novo a luta. Comprehendia-se que ellas nasciam de montanhas submarinas. Havia em tudo aquillo uma especie de omnipotencia tragica.
De ordinario, o mar occulta os seus lances. Conserva-se voluntariamente obscuro. A incommensuravel sombra guarda tudo para elle. É raro que o mysterio renuncie ao segredo. Ha um quê de monstro na catastrophe, mas em quantidade ignota. 0 mar é patente e secreto; esconde-se, não quer divulgar as suas acções. Produz um naufragio, e abafa-o; engolir é o seu pudor. A vaga é hypocrita;