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do oceano. Ahi a demonstração é completa. É o mar da Noruega, a visinhança do tremendo golpho Stavanger, o quinquagesimo nono gráo de latittude. A agua é pesada e negra com uma febre de tempestatade intermittente.

Nessa agua, no meio da solidão, ha uma grande rua sombria. Não é rua para pessoa alguma. Ninguem passa alli; nenhum navio se arrisca nesse lugar. Um corredor de dez leguas de comprido, entre duas muralhas de tres mil pés de altura: eis a entrada. Esse estreito tem cotovellos e angulos como todas as ruas do mar, que nunca são rectas pois que são feitas pela torção da vaga.

No Lyse-Fiord, a vaga é quasi sempre tranquilla; o céo é sereno; lugar terrivel. Onde está o vento? Não está em cima. Onde está o trovão? Não está no céo. O vento está debaixo do mar; o trovão está debaixo da rocha.

De tempos a tempos ha um estremecimento debaixo da agua. Em certas horas, sem que haja uma nuvem sequer no ar, no meio da altura do penedio vertical, a mil ou mil e quinhentos pés acima das vagas, mais do lado do sul, que do norte, o rochedo rebôa subitamente, rompe dahi um relampago, que fende o ar, e recolhe-se logo, como esses brinquedos que se alongam e contrahem nas mãos das crianças; tem contracções e ampliações esse relampago, fere a rocha opposta, entra outra vez, torna apparecer, recomeça, multiplica as suas cabeças e as as linguas, erriça-se, fere onde póde, recomeça ainda, até que se apaga sinistramente. Fogem os bandos de passaros. Nada é tão mysterioso como