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o buraco tornou-se uma boca aberta cheia de chuva, e o vomito da tempestade começou.

Tremendo foi o instante.

Aguaceiro, furacão, relampagos, raios, vagas até ás nuvens, espuma, detonações, torções freneticas, gritos, roncos, assovios, tudo a um tempo. Desencadear de monstros.

O vento fulminava. A chuva não cahia, desabava.

Para um pobre homem, mettido, como Gilliatt, com um barco carregado, no intervallo de dous rochedos, em pleno mar, não ha crise mais ameaçadora. O perigo da maré, de que Gilliatt triumphára, nada era ao pé do perigo da tempestade. Eis a situação:

Gilliatt, em volta de quem tudo era precipicio, descobrio, no ultimo momento, e diante do risco supremo, uma estrategia engenhosa, Fez ponto de apoio no proprio inimigo; associou-se ao escolho; o rochedo Douvres, outrora seu adversario, era agora o seu padrinho naquelle immenso duelo. Gilliatt tinha-o debaixo de si. Fez daquelle sepulchro uma fortaleza. Assestou-se naquelle pardieiro formidavel do mar. Estava bloqueado, mas entrincheirado. Estava, por assim dizer, aggregado ao escolho, face a face com o furacão. Pôr barricadas ao estreito, essa rua das vagas. Era a unica cousa que podia fazer. Parece que o oceano, que é um despota pode ser tambem vencido pelas barricadas. A pança podia ser considerada segura por tres lados. Estreitamente apertada, entre as duas fachadas internas do escolho, triplicemente ancorada, estava abrigada ao norte pela pequena Douvre, ao sul pela grande,