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Possante vagalhão, visivel entre os relampagos, levantou-se a leste além do rochedo Homem. Parecia um grande rolo de vidro. Era verde e sem escuma nem ondas. Inchava aproximando-se; era um largo cylindro de trevas rolando no oceano. A trovoada roncava surdamente.

Esse vagalhão chegou ao rochedo Homem, partio-se em dous e continuou. Os dous pedaços juntos tornaram a ligar-se, e fizeram uma grande montanha de agua, e de parallela que estava ao quebra-mar, tornou-se perpendicular. Era uma vaga com a fórma de uma viga.

Atirou-se ao quebra-mar aquelle ariete. Rugia o choque. Tudo desappareceu em espuma.

Não se póde imaginar o que são essas avalanchas de neve que o mar ajunta, e debaixo das quaes engole rochedos de mais de cem pés de altura, taes, por exemplo, como o grande Anderlo, em Guernesey, e o Pinaculo, em Jersey. Em Santa Maria de Madagascar, saltam por cima da ponta de Pintingue.

Durante alguns instantes, o rolo de mar tapou tudo. Só ficou visivel um montão furioso, uma escuma immersa, a alvura de um sudario fluctuando no vento do sepulchro, uma mistura de ruido e de tempestade debaixo da qual trabalhava o exterminio.

Dissipou-se a escuma. Gilliatt estava de pé.

O tapamento resistira. Nenhuma corrente arrebentou, nenhum prégo sahio. O tapamento mostrou á prova as duas qualidades do quebra-mar; foi flexivel como um caniço e solido como uma parede. O vagalhão dissolveu-se em chuva.