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E estendeu a mão a Gilliatt.

Tornaremos a fallar de mess Lethierry.

A pança foi entregue a Gilliatt.

Esta aventura não lhe destruio a alcunha de Finorio.

Algumas pessoas declararam que a cousa não era para admirar, visto que Gilliatt escondera no barco um galho de nespereira sylvestre. Mas ninguem pôde provar isso.

Desde esse dia, Gilliatt não teve outra embarcação. Naquella pesada chalupa é que elle ia á pesca. Amarrava-a no excellente ancoradourosinho que tinha só para seu uso, debaixo do muro da casa mal assombrada. Ao cahir da noite, atirava a rede ás costas, atravessava o jardim, galgava o parapeito de pedras seccas, rolava de rochedo em rochedo, e saltava na barca. Dahi fazia-se ao mar.

Pescava muito peixe, mas affirmava-se que o galho de nespereira estava sempre atado á chalupa. Ninguem o vio nunca, mas toda a gente acreditava.

Não vendia, dava o peixe que lhe sobrava.

Os pobres acceitavam o peixe, sem deixarem de lhe querer mal por causa do ramo embruchado. Não se deve trapacear com o mar.

Era pescador, mas não era só isso. Tinha aprendido por instincto ou por distrahir-se, tres ou quatro officios. Era marceneiro, ferreiro, fabricante de carros, calafate e até um pouco mecanico. Ninguem concertava uma roda como elle. Fabricava de um modo especial, todos os seus instrumentos de pesca. Tinha em um canto da casa uma pequena forja e uma bigorna, e, não tendo a chalupa mais que uma ancora, fez-lhe outra, elle só. Excellente ancora era essa;