o vidente, o poeta até o propheta; resulta Horeb, Cédron, Ombos, a embriaguez do louro mastigado da Castalia, as revelações do mez Busion; resulta Peleia em Dodona, Phemonoë em Delphos, Trophonius em Lebadéa, Ezequid no Kebar, Jeronymo na Thebaida. Na maior parte dos casos o estado visionario abate o homem, e o embrutece. O embrutecimento sagrado existe. O fakir carrega a sua visão, como o habitante alpino a sua papeira. Luthero fallando aos diabos no celeiro de Wurtemberg, Pascal tapando o inferno com o biombo do seu gabinete, o abi negro dialogando com o deos branco, chamado Bossum, é o mesmo phenomeno, diversamente produzido, segundo a força e a dimensão de cada cérebro. Luthero o Pascal são e ficam sendo grandes; o abi negro é imbecil.
Gilliatt não era tanto, nem tão pouco. Era um pensativo. Nada mais.
Contemplava a natureza de um modo singular.
Tinha visto algumas vezes na agua do mar, completamente limpida, animaes inexperados, de grandes dimensões, de formas diversas, os quaes fóra d’agua assemelhavam-se a crystal molle, e tornados á agua, confundiam-se com ella, pela identidade de transparencia e de côr; disto concluia elle que, se a agua era habitada por transparencias vivas, bem podia ser que o ar fosse habitado por transparencias igualmente vivas. Os passaros não são os habitantes, são os amphibios do ar. Gilliatt não acreditava no ar deserto. Dizia elle: se o mar está cheio de creaturas, porque motivo a atmosphera será vasia creaturas côr do ar podem escapar aos nossos olhos