O golphão attrahia-o.
Engulida a barca, restava-lhe morrer de fome e de frio como o naufrago do rochedo Homem.
Durante dous longos mezes, as consciencias e as providencias que existem no invisivel, tinham assistido a isto: de um lado a extensão, as vagas, os ventos, os relampagos, os meteoros, do outro lado um homem; de um lado o mar, do outro uma alma; de um lado o infinito, do outro um atomo.
E houve batalha.
E abortava talvez aquelle prodigio.
Assim chegou á impotencia o inaudito heroismo, acabava-se pelo desespero aquelle formidavel combate, aquella luta do Nada contra Tudo, aquella Illiada de um.
Gilliatt desvairado contemplava o espaço.
Nem mesmo tinha roupa, estava nú diante da immensidade.
Então, no acabrunhamento de toda aquella enormidade desconhecida, não sabendo já o que queriam delle, confrontando-se com a sombra, em presença daquella obscuridade irreductivel, no rumor das aguas, das ondas, dos marulhos, das espumas, das lufadas, debaixo das nuvens, debaixo dos ventos, debaixo da vasta força esparsa, debaixo daquelle mysterioso firmamento das azas, dos astros e das tumbas, debaixo da intenção possivel das cousas desmesuradas, tendo á roda de si e era baixo de si o oceano, e acima as constellações, debaixo do insondavel, Gilliatt abateu-se, desistio, deitou-se ao comprido sobre a rocha, voltado para as estrellas, vencido, e pondo as mãos diante da profundeza terrivel, bradou ao infinito: piedade!