Parecia-lhe ver um paraiso fantasma. Tinha medo que lhe voasse tudo aquillo. Era quasi impossivel que aquellas cousas estivessem diante delle; e se estavam, era sem duvida prestes a esvair-se como acontece com as cousas divinas. Bastava um sopro para desapparecer tudo. Gilliatt tremia por isso.
Perto delle, e em frente, no jardim, á beira de uma alameda, havia um banco de páo pintado de verde. Os leitores lembram-se desse banco.
Gilliatt contemplava as duas janellas. Pensava em alguem que estivesse dormindo naquelle quarto. Quizera não estar onde estava. Preferia morrer a retirar-se. Pensava numa respiração levantando um seio. Ella, aquella miragem, aquella alvura dentro de uma nuvem, aquella obsessão de seu espirito, estava alli! Gilliatt pensava no inaccessivel que dormia, e tão perto, e ao alcance do seu extase; pensava na mulher impossivel adormecida e visitada tambem pelas chimeras; na creatura desejada, remota, esvaecente, fechando os olhos com a fronte na mão; no mysterio do somno da creatura idéal; nos sonhos que póde ter um sonho. Não ousava pensar além e pensava; arriscava-se nas faltas de respeito do devaneio; perturbava-o a quantidade de forma feminina que póde haver no anjo. A hora nocturna faz com que os olhos timidos lancem furtivos olhares; censurava-se por ir tão longe, receiava profanar com a reflexão; a seu pezar, constrangido, tremulo, Gilliatt olhava para o invisivel. Sentia a commoção e quasi o soffrimento, de imaginar uma saia numa cadeira, um manto atirado ao tapete, um cinto desenlaçado, um lenço de pescoço. Imaginava um collete, um atacador arrastando