ao encanto que resumbrava della, via-se a pontinha de um de seus pés, havia nos seus cilios fechados aquella vaga contracção que annuncia uma lagrima represa ou um pensamento repellido, os seus braços tinham a indecisão fascinante de não achar onde encostar-se, misturava-se-lhe á postura alguma cousa fluctuante, era antes um clarão que uma luz, antes uma graça que uma deusa, as dobras da barra da saia eram delicadas, o seu admiravel rosto meditava virginalmente. Estava tão perto, que era terrivel. Gilliatt ouvia-a respirar.
Havia ao longe um rouxinol que cantava. A passagem do vento nos ramos punha em movimento o inefavel silencio nocturno. Deruchette, gentil e sagrada, apparecia naquelle crepusculo como o resultado daquelles raios e daquelles perfumes; o encanto immenso e esparso ia ter mysteriosamente a ella, nella condensava-se era a sua irradiação. Parecia a alma flôr de toda aquella sombra.
Toda aquella sombra, fluctuante em Deruchette, pesava sobre Gilliatt. Estava desvairado. O que elle sentia não cabe dize-lo em palavras; a commoção é sempre nova e as palavras já servirão muito; dahi vem a impossibilidade de exprimir a commoção. Existe o abatimento do encanto. Ver Deruchette, vêl-a ella propria, ver-lhe o vestido, ver-lhe o barrete, ver-lhe a fita que ella enrolava nos dedos, póde-se acaso imaginar semelhante cousa? Estar perto della, era acaso possivel? Ouvi-la respirar; respirava pois! então os astros respiram. Gilliatt estremecia. Era o mais miseravel e o mais inebriado dos homens. Não sabia que fazer. O delirio de ve-la esmagava-o. Pois que! Era ella