— 70 —

Não se curvava, nem diante de uma objecção, nem diante de uma tempestade. Não, para elle, era palavra que não existia, nem na bocca de um homem, nem no ribombo de uma nuvem. Passava adiante. Não consentia que se lhe recusasse nada. Dahi vinha a sua pertinacia na vida e a sua intrepidez no occeano.

Era elle proprio quem temperava a sua sopa de peixe; sabia que porção de sal, pimenta e hervas era preciso, e gostava tanto de fazel-a como de comel-a.

Creatura que um riso transfigura, e um casaco embrutece, assemelhando-se, com os cabellos soltos, a Jean Bart, e, com chapéo redondo, a Jocrisse, acanhado na cidade, estranho e temivel no mar, espadua de carregador, sem imprecações, quasi sem colera, voz doce e meiga que o porta-voz transforma em trovão, camponio que lêo a Encyclopedia, guernesiano que vio a revolução, ignorante, instruido, ermo de carolice, dado ás visões, mais fé na Dama Branca que na Santa Virgem, logica de ventoinha, vontade de Christovão Colombo, um tanto de touro e um tanto de criança, nariz quasi rombo, faces grossas, boca com todos os dentes, rosto enrugado, cara que parece ter sido feita pelo mar, beijada pelos ventos durante quarenta annos, ar de tempestade na fronte, carnação de rocha em pleno mar; põe agora um olhar bom neste rosto agreste, e terás mess Lethierry.

Mess Lethierry tinha dous amores: Durande e Deruchette.