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que andava sempre no bolso delle, ter-se-hia encontrado entre outras notas, algumas do genero desta:—em Lyão, n’uma das frestas da parede do calabouço de S. José, ha uma lima escondida. Fallava com uma lentidão discreta. Dizia-se filho de um cavalheiro de S. Luiz. A sua roupa era toda misturada e marcada com iniciaes differentes. Ninguem mais susceptivel em cousas de honra. Batia-se e matava.

A força servindo de envolucro á astucia, tal era Rantaine.

A belleza de um sôco applicado por elle, n’uma feira, sobre uma Cabeza de moro, conquistara-lhe outr’ora a sympathia de Lethierry.

Suas aventuras eram completamente ignoradas em Guernesey. Variavam muito. Se os destinos teem um traje, o destino de Rantaine vestia á moda de arlequim. Tinha visto o mundo; tinha trabalhado muito. Era um circumnavegador. Teve innumeraveis officios. Foi cozinheiro em Madagascar, creador de passaros em Sumatra, general em Honolulu, jornalista religioso nas ilhas de Gallapagos, poeta em Oomrawuttee e pedreiro livre no Haiti. Neste ultimo emprego, pronunciara no Grande Goave uma oração funebre de que os jornaes locaes conservaram este fragmento: ... «Adeus, pois, bella alma! na abobada azulada dos céos onde agora desferes o vôo, encontrarás sem duvida o bom padre Leandro Crameau do Pequeno Goave. Dize-lhe que, graças a dez annnos de esforços gloriosos, terminaste a igreja de Anse-à-Veau! Adeos! genio transcendente, maçon modelo!» A mascara de pedreiro-livre não lhe impedia, como se vê, trazer o nariz catholico. A primeira conciliava-o com os homens do progresso; o segundo com