Antes julgo...
Lelio. Que julgas?
Oſmîa. Nada julgo,
Pretor, fica-te em paz: de ti naõ devo
Mais noticia eſperar. Toda me entrego
Aos deſignios do Fado. Os Ceos protegem
A virtude conſtante, bem que ſeja
Por coraçoens malvados opprimida. [1]
Lelio. Ah! Detem-te Princeza. Eu ſó medito
Nos meios de ſalvar-te; mas nem ſempre
Saõ os meios conformes aos deſignios
D'um nobre coraçaõ. De mim confia,
Que a tua paz prefira ao meu ſocego.
Se ſouberas...
Oſmîa Pretor, ſenaõ alcanço
Saber o que pertendo, mais naõ tenho
Que ſaber, ou que ouvir. A Eledia torno,
Que naõ longe deixei, ou tu ma envia,
E á minha dôr me deixa em tanto entregue.
Lelio. Se te agrada aggravar o duro aſpecto
Da tua ſituaçaõ, fallemos della:
Naõ falta que dizer, e verás como
Sei preſtar-me a teus votos, bem que ſejaõ
Contrarios a meus proprios ſentimentos.
Oſmîa. Ah! cruel! como vejo em teu ſemblante
Reluzir a fereza que disfarças
D'uma falſa piedade na apparencia.
Lelio. [2] Chamas falſa piedade a hum ſentimento,
Que todo me tranſporta?
Oſmîa. Que linguagem!
Lelio. E quanto ſoffro, Oſmîa, ſob o pezo
Do rigido ſilencio que m'imponho!
Oſmîa. Mais nao ſoffras, Pretor, vai explicar-te
Onde poſſas melhor ſer percebido.