Página:Paquita; poema em XVI cantos, Bulhão Pato, 1894.djvu/62

24
PAQUITA

Mansinho entrou pelos salões a bella,
Vaporosa, risonha, encantadora.
O lume incerto de furtiva estrella,
A flor que nasce ao despontar da aurora,
N'haste flexivel, seduzindo o amante
Com requebros d'amor, a philomela,—


Quantas imagens cria a fertil veia
De certos menestreis descabellados,
Todas ellas não dão perfeita idéa
D'essa etherea visão d'olhos rasgados,
Azues-ferretes como o ceo do outono,
E de longas pestanas circumdados!


Eu vi-a, santo Deus! Vi-a inundada
De torrentes de luz resplandecente,
Imagem do ideal, no ceo gerada
Ao sopro creador do Omnipotente!
E foi então que o fogo da poesia
O estro me accendeu n'alma inspirada!