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Mas lembra-me porém que vós fizestes
Paz entre Deus e nós,
E a quem por vós chamou sempre a mão destes.

III

Virgem, seguro porto e amparo e abrigo
As móres tempestades; ah que tinha
Aos ventos esta vida encommendada
Sem olhar a que parte ia ou vinha,
Vãmente descuidado do perigo,
Surdo aos conselhos, tudo tendo em nada,
Não vos seja em desprezo esta coitada
Alma que ante vós vem,
Por rezões que tem,
De imigos grandes mal ameaçada.
E que eu tão peccador e errado seja,
Vença vossa piedade
Minha maldade grande e assi sobeja.

IV

Virgem, do mar estrella, neste lago
E nesta noite um pharo que nos guia,
Para o porto seguro um certo norte;
Quem sem vos atinar, quem poderia
Abrir sómente os olhos, vendo o estrago
Que atraz olhando deixa feito a morte?
Quem proa me daria com que corte
Por tão brava tormenta?
De toda a parte venta,
De toda espanta o tempo feio e forte.
Mas tudo que será? Co’a vossa ajuda
Nevoa que foge ao vento
Que num momento s’alevanta e muda.

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VI

Virgem e madre juntamente, quem
Tal nunca ouviu nem d’antes nem despois
Senão em vós? quem foi o que o entendeu?