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Vós madre e filha, vós esposa sois
D’aquelle que apertado ao peito tem
Os vossos braços sanctos, outro céo.
Na vossa alta humildade se venceu
O soberbo tyranno
Que com inveja e engano
Nos fez tão perigosa e longa guerra:
Em mulher começou tal damno nosso;
Quem nos restituiu,
De vós sahiu, Senhora: o preço é vosso!

VII

Virgem, nossa esperança, um alto poço
De vivas aguas, donde a graça corre
Em que se matam para sempre as sedes;
Não de Nembroth, mas de David a torre,
Donde soccorro espero ao meu destroço,
Assi tão perseguido como vèdes,
D’entre tão altas, tão grossas paredes,
De ferro carregado,
Um coração coitado
Chama por vós involto em bastas redes.
Esse que eu sou, signaes inda alguns tenho
De ser do vosso bando,
Que a vós bradando por piedade venho.

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XI

Virgem das virgens, como o tempo voa!
Quem sabe quanto avança
Nossa certa esperança!
Quanto suspiro a toda a parte soa,
Quantas lagrimas cahem mal derramadas!
Mas, posto de giolhos,
A vós os olhos: tudo o mais são nadas.

Sá de Miranda.