inuteis. Desbastou, não extinguiu; e ainda bem, que d’ahi ao menos se dividiram as duas escholas que mutuamente se retemperaram.
Diogo Bernardes, na poesia que expozemos no numero XXVII, teve os olhos fitos nesta de Miranda, e ambos aproveitaram, tanto no conceito sublime como na elegancia de phrase, o texto de Petrarca na sua canção cviii. O numero de estrophes e ordem de versos são identicos, e até tèm todos a mesma invocação da Virgem no começo de cada estancia; Diffunde-se por elles certo sabor latino e biblico, que era proprio do tempo e da erudição da moda.
A segunda canção que copiamos sahiu na primeira edição conforme a letra da de 1614 das Obras; mas nesta segunda modifica-se um pouco seguindo a lição da de 1885, feita pela ex.ma sr.a D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos.
No Bosquejo metrico da Historia de Portugal, cant. iii, est. 27, indica o sr. Antonio José Viale com rara elegancia o merecimento do nosso Sá:
Bemquisto do monarcha, e aos bons acceito,
Miranda, probo, culto, ingenuo e grave,
De Platão portuguez ganha o conceito,
Pela pura moral, dicção suave.
Os thesoiros que encerra o sabio peito
Folga a todos abrir com aurea chave:
Sem que jámais do assumpto o tom desvaire,
Quanto escreve tem sal, siso e donaire.
Francisco (Fr.) de São Carlos (XXXVII) nasceu no Rio de Janeiro em 13 de agosto de 1763 e falleceu na mesma cidade em 6 de maio de 1829. Foi frade franciscano e prégador de grande fama. Entre outras obras compoz o poema Assumpcão em honra da Sanctissima Virgem, donde extrahimos um trecho notável. D’elle diz Innocencio no Diccion. vol. 2.° (pag. 363) que: «é cheio de grandes imagens, de episodios variados e de descripções locaes, de que o auctor soube tirar todo o partido possivel, para dar á sua obra um colorido propriamente nacional.» Consta de oito cantos, em verso de rimas pareadas. A musa que invoca é a Egreja:
E tu, Egreja, tu, nunca invocada,
Musa do Céo, de estrellas coroada,
Nesta vida escabrosa, e tão confusa,
Ah! Digna-te de seres minha Musa.