Descendo alvo e sonoro,
O sol abraseado do deserto
N’um dia te seccou as ondas limpidas,
E eu fiquei só, trilhando a escura senda,
Sem tuas puras aguas
Para orvalhar-me os ressequidos labios,
Sem mais ouvir o trepido murmurio,
Que em tão placidos sonhos m’embalava....
Mas — cessem nossas queixas, e curvemo-nos
Aos pés d’aquella cruz, que alli se exalça,
Symbolo sacrosanto do martyrio,
Fanal de redempção,
Que na hora do extremo passamento
Por entre a escura sombra do sepulcro
Mostra ao christão as portas radiantes
Da celeste Solima, — eil-a que fulge
Como luz de esperança ao caminhante,
Que transviou-se em noite de tormenta;
E alçada sobre as campas
Parece estar dizendo á humanidade:
Não choreis sobre aquelles que aqui dormem;
Não mais turbeis com vossos vãos lamentos
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