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Contão vates que Orphêo, cantor divino,
A morta esposa á luz restituíra,
As infernaes potencias encantando
    Aos sons de eburnea lyra.

Tambem da lyra aos sons quero evocar-vos
Sombras queridas, pallidas imagens;
Do esquecimento quero hoje arrancar-vos
    A’s lugubres voragens.

E quem me impedirá? — da fantasia
Tenho n’alma o condão omnipotente,
Que o passado nos tumulos acorda,
E o faz surgir nos campos do presente.

Das musas o poder não tem limites,
Do sepulcro as barreiras ultrapassa,
Destróe a ausencia, as trevas alumia,
E do porvir os adytos devassa.

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