Em extase suave adormecida.
E solta a susurrar por entre as flôres
Inquieto bando de lascivos zephyros:
Que por seu meigo halito afagada
A selva balancêe harmoniosa
Sua virente cupola, exhalando
Entre perfumes namorados quebros,
E de sinistras nevoas destoucando-se
No diafano azul dos horizontes
Banhados de luz meiga, os montes surdão.
Quando sem nuvens, placida, festiva,
Tão bella assim, resplende a natureza,
Me parece que Deos do excelso throno
Um sorriso de amor á terra envia,
E como n’esses dias primitivos,
Lá quando ao sopro seu omnipotente
Formosa a creação do cháos surgia,
Nas obras suas se compraz ainda.
Vem pois, Anjo canoro do deserto,
D’esta harpa a Deos fiel roça em teu vôo
As fibras sonorosas,
E d’ellas fuja um hymno harmonioso
Página:Poesias (Bernardo Guimarães, 1865).djvu/54
— 46 —