Varando afouta a profundez do espaço,
Anhelando entrever na immensidade
A eterna fonte, d’onde a luz emana....
O’ pallidos fanaes , tremulos cirios,
Que na esphera guiais da noite o carro,
Planetas, que em cadencia harmoniosa
No ether crystallino ides boiando,
Dizei-me — onde está Deos? — sabeis se existe
Um ente, cuja mão eterna e sabia
Vos esparzio pela extensão do vacuo,
Ou do seio do cháos desbrochastes
Por insondavel lei do cego acaso?
Conheceis esse rei, que rege e guia
No espaço infindo vosso errante curso?
Eia, dizei-me, em que regiões ignotas
Se eleva o throno seu inaccessivel?
Mas em vão interrogo os céos e os astros,
Em vão do espaço a immensidão percorro
Do pensamento as azas fatigando!
Em vão; — todo o universo immovel, mudo,
Sorrir parece de meu vão desejo!
Duvida — eis a palavra que eu encontro
Escripta em toda a parte; — ella na terra,
E no livro dos céos vejo gravada,
Página:Poesias (Bernardo Guimarães, 1865).djvu/83
— 75 —