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Se o verbo creador pairando um dia
Sobre a face do abysmo, a um só aceno
Evocava do nada a natureza,
E do seio do cháos surgir fazia
A harmonia, a belleza, a luz, a ordem,
Porque deixou o espirito do homem
Sepulto ainda em tão profundas trevas,
A debater-se n’este cháos sombrio,
Onde embryões informes tumultuão,
Inda aguardando a voz que á luz os chame?

Quando, espancando as sombras somnolentas,
Surge a aurora no coche radiante,
Inundando de luz o firmamento,
Entre o rumor dos vivos que despertão,
Levanto a minha voz, e ao sol, que surge,
Pergunto: — Onde está Deos? — ante meus olhos
A noite os véos diaphanos desdobra,
Vertendo sobre a terra almo silencio,
Propicio ao scismador; — então minha alma
Desprende o vôo nos ethereos paramos,
Além dos sóes, dos mundos, dos cometas,