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OCCIDENTAES

         Diante da ave feia e escura,
         Naquella rigida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
         Sorriu-me alli por um momento,
      E eu disse: «Ó tu que das nocturnas plagas
      «Vens, embora a cabeça nua tragas,
      «Sem topete, não és ave medrosa,
         «Dize as teus nomes senhoriaes;
«Como te chamas tu na grande noite umbrosa?»
         E o corvo disse; «Nunca mais.»

         Vendo que o passaro entendia
         A pergunta que lhe eu fazia,
Fico attonito, embora a resposta que dera
         Difficilmente lh’a entendera.
      Na verdade, jamais homem ha visto
      Cousa na terra semelhante a isto:
      Uma ave negra, friamente posta
         N’um busto, acima dos portaes,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
         Que este é seu nome: «Nunca mais.»

         No emtanto, o corvo solitario
         Não teve outro vocabulario,
Como se essa palavra escassa que alli disse
         Toda a sua alma resumisse.
      Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
      Não chegou a mexer uma só pluma,
      Até que eu murmurei: «Perdi outr’ora
         Tantos amigos tão leaes!