Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/100

96
olinda a alzira

A ardente lingua sua unindo á minha,
Ou, sobre o seio meu calando a bocca,
N′elle impressos deixar seus proprios beiços.
Com mão mais temeraria, do vestido
Pela abertura a occultos attractivos
Indo o fogo atear... Ah! que eu não pude
Mais resistencia oppôr a seus desejos!
Apenas leve fisga separando
Um dedo seu, que um raio parecia,
Tocou o sitio onde os deleites moram.
Subito, alvorotados uns com outros
Travando estranha lucta, me levaram
Onde, fora de mim, quasi sem vida,
Só quanto então gosei, gosar podia.
Dos membros todos foram engolphar-se
As sensações alli; e só tornaram
A ser o que eram, quando ao mesmo tempo
Sua potencia intrinseca exhalando.
Fiquei de todo languida, e abatida:
O perverso Bellino attentos olhos
Nos meus então fitando, quiz lèr n′elles
De que ficções minha alma se occupava.
Foi extremo o rubor, que de improviso
Minhas faces tingiu: lancei-lhe os braços,
Escondendo meu rosto no seu peito,
Por não poder suster-lhe as doces vistas,
A minha terna acção atraiçoou-me;
Que o maligno, pegando-me do rosto
Com ambas suas mãos, mais me encarava;
De confusa me vêr folga e se ufana,