Elle não conta nobres ascendentes,
De quem meus paes se dizem oriundos:
É quanto basta para erguer muralhas
De alcance, entre elle e mim, inaccessiveis:
O ditoso hymeneu não me é preciso,
O hymeneu, apparato de teus votos.
Para entre os braços seus tecer affouta
Indissoluveis nós c'o meu Bellino:
Sou d'elle, é meu: os homens que se ralem.
Alzira, tu, que a amor meu peito abriste,
Abre meus olhos á Natura inteira:
Eu quero n'ella vêr os meus destinos;
Só n'ella eu quero divinaes verdades
Sollicita explorar, viver só n'ella
Cumpre as gratas promessas, que me fazes,
Deva a ti só a tua Olinda tudo.
Não ha para os christãos um Deus differente
Do que os gentios teem, e os musulmanos?
O que a razão desnega, não existe:
Se existe um Deus, a Natureza o off'rece;
Tudo o que é contra ella, é offendel-o.
Devo eu seguir o culto, que me apontam
As impressões da propria Natureza?
Tenho uma religião em pratical-as?
Que o mundo é este pois, prezada Alzira?
Teem os homens levado o seu arrojo
Té forjarem um Deus na ousada mente.
Traçar-lhe cultos, levantar-lhe templos,
Attribuir-lhe leis, que a ferro e fogo
Estranhos povos a adorar constrangem.
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olinda a alzira