Ai! Que ha de ser de vós, gente de malta!
Eu vejo em vossas faces o desgosto,
E a dor, que os corações vos sobresalta!
Morreu a vossa mãe, o vosso encosto,
Que vos ganhava o pão honradamente,
Inda que com suor do vosso rosto!
Não mais vereis entre a mundana gente
D’aquella honrada bôca o grato riso,
Que descubria um solitario dente!
Morreu a discrição, foi-se o juizo,
Vós o sabeis: melhor que esta viuva
Ninguem fez um recado de improviso.
Embrulhada na capa ao vento, á chuva,
Ella comprar-vos ia caridosa
As ginjas, os melões, a pêra, a uva:
Vendo qualquer de vós triste e chorosa,
Ella desassocega, ella trabalha
Por livrar-vos da pena lamentosa:
Conhecia os tafues já pela malha,
Ella vos apartava dos sovinas,
Para aquelles que dão maior medalha:
Chupista de dinheiro e de tolinas,
Por todas repartindo esta pendanga,
Ella era o vosso bem, e as vossas minas.
C’os homens depravados tinha zanga,
Gostava da modestia, e da virtude
Dos que dão a beijar cordão e manga.
Se a mandavam beber, era um almude,
E ás vezes não parava até que a bôca
Se lhe punha mais grossa do que grude.
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