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notas

As palavras adora, que elle encerra.
Para te confundir, a outras fontes
Mais dignas de teus vis impuros labios
Por tua confusão quero guiar-te,
Porque vejas que o cego gentilismo
Falto das luzes sanctas no evangelho,
Por entre as grossas trevas da ignorancia
O dogma conheceu, que tu condemnas:
Ouve Platão, que manda os assassinos
Para o Tartaro negro, e tenebroso,
Onde diz que os tormentos são eternos.
De Sycione ao philosopho pergunta
Quem lhe ensinou que havia dous logares
Para o premio e castigo além da morte?
Ouve Plutarco, que esta mesma crença
Com a maior clareza te annuncia:
Lê finalmente gregos e romanos,
Egypcios e chaldeos, verás em todos
Este logar ao vivo retratado:
Verás gemer Sisyphos carregados
Co′o peso rude de infernaes penedos;
Promethêos oppirmidos de cadêas,
Ticios de abutres feros devorados,
Tantalos, e outros mil, que submergidos
No abrazado barathro nos pintam:
São fabulas, eu sei: mas esta idéa!
Posto que com ficções desfigurada,
Só de uma tradicção a mais antiga
Podia deduzir a sua origem.

Escravo das paixões, a que te entregas,