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ribeirada
XXX


Estas vozes ouvindo a desgraçada
De repente no chão cahir se deixa;
E, temendo a mortifera estocada,
Ora abre os tristes olhos, ora os fecha:
Com suspiros depois desatinada
Da contraria fortuna alli se queixa:
Até que elle lhe diz, com meigo modo:
«Levanta-te do chão, que não te fodo.»

XXXI


Alma nova cobrou, qual lebre afflicta,
Que das unhas dos cães se vê liberta;
E apalpando a conaça (oh que desdita!)
Mais que bocca de barra a encontra aberta;
Mas consola-se um pouco, e já medita
Em fugir da ruina, que é tão certa;
E em vingar-se do horrivel Brutamonte.
Ornando-lhe de cornos toda a fronte.

XXXII


Tem conseguido a barbara vingança
A traidora mulher, como queria;
E o negro com paciencia branda e mansa,
Soffrendo os cornos vai de dia em dia:
Bem mostra no que faz não ser creança,
Que de nada o rigor lhe serviria;
Porque se uma mulher quizer perder-se.
Até feita em picado ha de foder-se.