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poema
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III


Dirige a minha voz, meu canto inspira,
Que vou cantar de ti, se a Jacques canto;
Tendo um corno na mão em vez de lyra,
Para livrar-me do mortal quebranto:
Tua virtude em Manteigui respira,
Com graça, qual tu tens, motiva encanto;
E bem pode entre vós haver disputa
Sobre qual é mais bella, ou qual mais puta,

IV


No cambayco Damão, que escangalhado
Lamenta a decadencia portugueza,
Este novo Ganós foi procreado,
Peste d′Asia em luxuria e gentileza:
Que ermitão de cilicios macerado
Pode ver-lhe o carão sem porra teza?
Quem chapeleta não terá de mono,
Se tudo que alli vè é tudo cono?

V


Seus meigos olhos, que a foder ensinam,
Té nos dedos dos pés tezões accendem;
As mammas, onde as Graças se reclinam,
Por mais alvas que os veus os veus offendem;
As doces partes, que os desejos minam,
Aos olhos poucas vezes se defendem;
E os Amores, de amor por ella ardendo,
As piças pelas mãos lhe vão mettendo.