Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/28

24
a manteigui
VI


Seus cristalinos, deleitosos braços,
Sempre abertos estão, não para amantes,
Mas para aquelles só, que, nada escassos,
Cofres lhe atulham de metaes brilhantes;
As niveas plantas, quando move os passos,
Vão pizando os tezões dos circumstantes;
E quando em ledo som de amores canta,
Faz-lhe a porra o compasso co′a garganta.

VII


Mas para castigar-lhe a vil cobiça
O vingativo Amor, como aggravado.
Fogo infernal no coração lhe atiça
Por um sordido cafre asselvajado:
Tendo-lhe visto a torrida linguiça
Mais extensa que os canos d′um telhado,
Louca de comichões a indigna dama
Salta n′elle, convida-o para a cama.

VIII


Eis o bruto se coça de contente;
Vermelha febre sobe-lhe ao miolo;
Agarra na senhora, impaciente
D′erguer-lhe as fraldas, e provar-lhe o bolo:
Estira-a sobre o leito, e de repente
Quer do panno sacar o atroz mampolo:
Porem não necessita arrear cabos;
Lá vai o langotim com mil diabos.