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A EMPREZA NOCTURNA


Era alta a noite, e as beiras dos telhados
Pingando mansamente convidavam
A gente toda a propagar a especie:
Brandas torrentes, que do ceu cahiam
Pelas ruas abaixo susurravam;
Dormia tudo; e a ronda do intendente
Que o grão Torquato rege, o pae das putas,
Esbirro-mór, Mecenas das tabernas,
Recolhido se havia aos patrios lares.
Era tudo silencio, e só se ouvia
De quando em quando ao longe uma matraca.
Soava o sino grande dos Capuchos,
Vão-se os frades erguendo, era uma hora.
Não podia faltar: Nise formosa,
Pela primeira vez m′estava esperando.
De repente me visto, e salto fóra
Da pobre cama, aonde envolto em sonhos
Mil imagens a mente me fingia.