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nocturna
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Em tempo de verão põem nas janellas,
Tal a moça rebolla: e eu posto em cima,
Sem nada lhe dizer, tinha vertido
Na larga dorna a larga apojadura.
Acabada a funcção, em que a moçoila
(Segundo confessou) deu tres por uma,
N′um quarto me encaixou, onde os Amores
Tinham sua morada, onde Cupido
Havia receber em seus altares
Em breve espaço meus amantes votos.

Dormia tudo em casa: eis Nise bella
Um pouco envergonhada, assim ficando
Mais vermelha que a rosa, a mim se chega,
Nos meus braços se lança: então lhe toco
No tenro, e branco seio palpitante;
Trémula a voz, que o susto lhe embargava,
Mal me pôde dizer: «Meu bem, minh′alma
«Quanto póde o amor n′um peito firme!
«Bem vês ao que me arrisco: eu bem conheço
«Quanto offendo o meu sexo, e as leis da honra
«Bem sei que despedaço!... Mas não temo
«Que te esqueças de mim, que ufano zombes
«D′uma infeliz mulher amante, e fraca!...»
Em quanto assim fallava, me prendia
Nise c′os braços seus, e aos meus joelhos
As pernas encostava, que eu conheço
Pelo tacto, que são rijas, e grossas.

Mal podia conter-me: o ceu chuvoso
Pelas telhas cahia; o vento rijo
Pelas frestas zunia; a casa toda